Na hora em que vi a notícia, não sei bem o porquê, mas lembrei do caso Celso Daniel... (Sandra Paulino)
Câmeras podem ter registrado imagens do assassinato do vice-presidente do Cremers - Marco Antonio Becker foi morto na noite de quinta-feira com pelo menos cinco tiros
Duas câmeras de vídeo de segurança localizadas em uma revenda de automóveis podem ter registrado imagens do assassinato do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Marco Antonio Becker, 60 anos. A Polícia Civil solicitará as imagens do equipamento. O oftalmologista foi morto na noite de quinta-feira com pelo menos cinco tiros, disparados por um homem que estava na carona de uma moto. O crime ocorreu na Rua Ramiro Barcelos, no bairro Floresta, em Porto Alegre.
Duas câmeras de vídeo de segurança localizadas em uma revenda de automóveis podem ter registrado imagens do assassinato do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Marco Antonio Becker, 60 anos. A Polícia Civil solicitará as imagens do equipamento. O oftalmologista foi morto na noite de quinta-feira com pelo menos cinco tiros, disparados por um homem que estava na carona de uma moto. O crime ocorreu na Rua Ramiro Barcelos, no bairro Floresta, em Porto Alegre.
Segundo relato de uma testemunha, Becker teria saído do restaurante Alfredo, na esquina da Avenida Cristóvão Colombo com a Ramiro. Ele acabara de entrar no carro, um Gol branco ano 1988, quando foi abordado pela dupla. Depois de ser baleado, o médico chegou a pedir ajuda, mas morreu no local. Natural de Novo Hamburgo, Becker será sepultado às 19h de hoje no Cemitério Evangélico da Lomba Grande, na Estrada Martin Luther, no município. O velório será realizado até as 16h na sede do Cremers, na Avenida Princesa Isabel, 921, no bairro Santana, em Porto Alegre.
A SAÚDE NO PAÍS DAS COPAS E DAS FURADEIRAS: 29/11/07
MARCO ANTÔNIO BECKER*
O mesmo país que se considera em condições de
receber uma Copa do Mundo convive com situações
inusitadas, constrangedoras e perversas,
como as que levam cirurgiões a recorrer a furadeira elétrica
para abrir a cabeça de pacientes durante operações.
O instrumento, comum na atividade de pedreiros e marceneiros,
chegou a ser usado recentemente em alguns
hospitais públicos do Rio de
Janeiro.
À falta de equipamentos
adequados nos serviços de
saúde pública e também
muitas vezes de medicamentos
e materiais básicos como
gazes e algodão, somam-se,
com freqüência alarmante,
instalações precárias, que dificultam
o trabalho médico,
deixando o profissional vulnerável,
mais sujeito a erros.
Ao mesmo tempo, o médico
que trabalha para o SUS – a
grande maioria neste país de
contrastes tão grandes quanto suas dimensões – recebe
remuneração quase indecente pela nobreza de sua atividade:
socorrer, curar, salvar vidas.
Como se não bastasse, o médico, o pára-choque do
sistema, expressão que cunhei há alguns anos, é vítima
de violência em pleno trabalho. Nos últimos tempos, as
agressões físicas e verbais aos médicos peritos do INSS
aumentaram assustadoramente. Em Minas, uma médica
foi morta a tiros no ano passado. Aqui, no RS, os casos
se sucedem de forma assustadora.
Por trás dessa obra lúgubre, marcada por pinceladas
de sangue, estão gestores aboletados em gabinetes,
indiferentes ao sofrimento de dezenas de milhões de
pessoas, já que para eles o atendimento de saúde está
assegurado com os melhores médicos e hospitais.
A União, tão ágil na liberação de verbas públicas para
o Pan realizado no Rio e tão empenhada em trazer a
Copa de 2014 para o Brasil, poderia resolver a crise na
saúde com um gesto simples: aplicar todos os recursos
da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
na saúde. Mas o atual governo, que bate sucessivos
recordes de arrecadação de impostos, não dá sinais de
que irá ceder, provando que a saúde pública não é sua
prioridade.
Não é a do governo, mas é a nossa, a dos médicos e
a de todos aqueles que trabalham na área da saúde e
que realmente se preocupam em prestar um melhor
atendimento à população. Por isso, a classe médica
realizou o Dia de Protesto, em 21 de novembro, e vai
seguir mobilizada para convencer e sensibilizar as cabeças
iluminadas que detêm o poder e que estão livres,
em princípio, de serem submetidas a uma cirurgia
com furadeira elétrica.
*Presidente do Cremers
As algemas e a saúde pública - 23/07/08
MARCO ANTÔNIO BECKER*
Bastou a Polícia Federal pôr as mãos, e as
algemas, em figurões do cenário brasileiro,
expondo-os à “execração pública”, para
que algumas vozes indignadas saíssem questionando
a ação, definida por eles de “espetaculosa”.
Afinal, algemas não combinam com traje Armani
e relógio Rolex.
Bradou-se, então, sobre preservação de direitos
fundamentais garantidos pela Constituição, o direito
sagrado de defesa, respeito e dignidade humana.
Conceitos que o pessoal
da base da pirâmide está
acostumado a ver pisoteados,
ignorados, desprezados.
Quem depende do Sistema
Único de Saúde – e são 140
milhões de pessoas, justamente
aquelas que não têm
dinheiro para bancar planos
privados –, por exemplo, só
vê alguém lembrar de direito
constitucional de atendimento
universal à saúde em
períodos eleitorais. Nos palanques,
discursos inflamados
prometem mais respeito e tratamento digno
aos enfermos.
Mas nada muda. A cada ano diminui o número
de leitos no país. Em contrapartida, a população
cresce. Aumentam as filas em busca de consultas,
exames e cirurgias. As emergências cada vez mais
lotadas. Pacientes amontoados nos corredores, sem
privacidade, esperando horas e horas por um leito
ou uma simples maca. Não raro, pessoas morrem
esperando pelo atendimento.
Médicos sobrecarregados, desvalorizados, com
remuneração aviltante, incapazes de atender à demanda,
lutando contra a falta de material e de medicamento,
tudo para curar ou ao menos atenuar o
sofrimento de enfermos.
É um cenário que os tais figurões constrangidos
pelas algemas nunca irão conhecer pessoalmente,
embora muito do que ali acontece possa ser conseqüência
de suas supostas ações criminosas, de
desvio de dinheiro público, de corrupção.
A saúde pública brasileira, sim, é que deveria
merecer a atenção e a indignação da sociedade.
O debate sobre o uso ou não de algemas para os
ricos – é este o ponto – precisa dar lugar a outros
temas importantes e fundamentais, como a saúde
pública.
Não é possível que um país tão rico, capaz de
gerar pessoas como as denunciadas e detidas pela
Polícia Federal, que movimentam milhões de
dólares com a maior naturalidade, não consiga os
recursos necessários para garantir o direito constitucional
de um atendimento digno e respeitoso à
sua população.
O cumprimento da Constituição Federal deve
partir dos princípios básicos. Entre eles, o acesso
digno, universal e integral à saúde pública.
*Presidente do Cremers
O SUS que queremos - 21/05/08
Criada a universalidade do atendimento
à saúde pela Constituição
Federal de 1988, o Sistema
Único de Saúde (SUS) é formado hoje
por mais de 6,7 mil hospitais, quase 370
mil leitos e aproximadamente 11 mil
postos de saúde. Um aparato gigantesco
que se propõe a prestar atendimento
integral, um objetivo que sempre esteve
longe de ser alcançado.
Nesses 20 anos, o SUS atendeu milhões
de pessoas. Muitas vidas foram
salvas. Mas a cada ano aumenta o martírio
dos usuários, em grande parte gente
pobre que não tem acesso a um plano
privado de saúde. Na maioria das vezes,
o paciente enfrenta um longo calvário
até ser atendido por um médico especialista,
fazer algum exame ou ser submetido
a um procedimento cirúrgico.
Enfim, um sistema perfeito na teoria,
mas que na prática se revela insuficiente.
O SUS só se mantém graças ao trabalho
abnegado de médicos e profissionais da
saúde. Um sistema que remunera a consulta
médica com valor equivalente ao
de um sanduíche de má qualidade e que,
muitas vezes, não proporciona as mínimas
condições de trabalho aos profissionais.
Ao mesmo tempo, hospitais arcam
com prejuízos incalculáveis.
Não é o prefeito, nem o governador,
nem o ministro, muito menos o presidente
da República, que está diante do
paciente, mas sim o médico, usado como
pára-choque do sistema.
O Brasil é um dos países que menos
investem em saúde pública, superado
pela maioria dos países latino-americanos.
No entanto, a arrecadação da União
bate recordes a cada mês.
Na área econômica do governo, a palavra
“saúde” é associada a “problema”,
e não ao entendimento correto de que
aplicar dinheiro em saúde não é despesa,
e sim investimento. Cada centavo
destinado ao setor, em especial a ações
preventivas, além de salvar vidas resulta
em economia, pois cidadão doente não
produz, além de onerar a Previdência
Social.
Para evitar que o quadro se agrave, o
movimento “Mais Saúde para o SUS”
promove no dia 30 de maio, no Largo
Glênio Peres, uma grande manifestação
em defesa da saúde pública.
É um movimento que reúne toda a sociedade
na defesa do SUS que queremos,
e não este SUS subfinanciado e precariamente
gerido que querem nos impor.
* Presidente do Conselho Regional de Medicina
do Rio Grande do Sul (Cremers)
A pesquisa e o bem-estar social - 16/02
Não fosse o Brasil um dos países mais
violentos do mundo, com índice de
homicídios que supera em aproximadamente
20 vezes a taxa verificada nos
países europeus, sem contar o comportamento
agressivo de motoristas, contribuindo
fortemente para a perda de muitas vidas, até
se poderia entender essa reação contra uma
pesquisa que busca aprofundar e ampliar o
conhecimento sobre os fatores geradores da
violência.
Não sei exatamente o que move os oponentes
da proposta de estudo liderada por pesquisadores
respeitados. Esses críticos de plantão
talvez nem eles mesmos saibam por que são
contrários a um trabalho que visa unicamente
a identificar os fatores que podem estimular a
agressividade.
São várias as alegações, nenhuma delas consistente,
até porque realmente não têm conhecimento
pleno do conteúdo do trabalho, que se
encontra hoje sob análise dos comitês de ética
de duas das mais importantes universidades
brasileiras, a UFRGS e a PUCRS. A pesquisa
somente será levada adiante se tiver a aprovação
dessas instituições, a partir do exame sério
e minucioso de especialistas, não de curiosos,
muitos sem formação para opinar sobre tema
tão complexo, mas que não vacilaram em empregar
termos como “práticas de extermínio e
exclusão”, referindo-se ao tema, como se adivinhassem
a priori o resultado e projetassem as
conseqüências desta pesquisa.
O fato é que ninguém com legítima preocupação
social pode ser contrário a uma proposta
que busca avaliar aspectos do funcionamento
do cérebro e que possam ou não estar
ligados a comportamentos violentos, sem ignorar
estudos já desenvolvidos em outras áreas
de cunho psicossocial, socioeducativo, entre
outros. Ainda mais se esse trabalho obedecer a
critérios éticos e científicos reconhecidos pelas
convenções internacionais e exigidos pelo Comitê
Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) e de
acordo com as normas emanadas do Conselho
Federal de Medicina.
Não podemos aceitar que posicionamentos
radicais, fundamentados essencialmente em
posições ideológicas, corporativas e dogmáticas,
tentem impedir que uma pesquisa desse
porte, uma vez aprovada, deixe de ser realizada.
Afinal, não é possível esquecer que por trás de
todos os avanços tecnológicos do mundo contemporâneo
está sempre a pesquisa embasada
na ética, tendo como finalidade precípua o
bem-estar social.
Romper com paradigmas é um mister muito
difícil, quase impossível, para quem se assenta
sobre prejulgamentos e preconceitos inadmissíveis.
*Médico e presidente do Cremers
Embora o inquérito seja sigiloso e a Polícia
Federal tenha motivos para manter em segredo
detalhes que possam prejudicar a investigação,
é essencial que a opinião pública receba
alguma informação, para ter certeza de que as
responsabilidades estão sendo apuradas.
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