AÇÃO
PALAVRAS DE DESPEDIDA (Versão de 05 Maio 2100 09)
Transcorridos quatro meia-dúzia anos de intenso, empolgante e gratificante efetivo serviço, aos quais acrescento sete outros plenamente vividos como Cadete de Tomaz Coelho, preparo-me para executar os comandos de “embainhar, espada!” e de, “no grupamento da Reserva, em forma!”. Embainharei a réplica do Sabre de Caxias, mas mante-la-ei firmemente empunhada e afiada, a postos para manejá-la no combate a serviço dos dois sagrados compromissos que, como eu, todos os militares juraram atender, o da integral dedicação à Pátria e o do mais absoluto comprometimento com o Exército. Volto-me para o altar de Deus e, em profunda oração, agradeço as copiosas graças com que Ele me protegeu: a saúde para empreender a marcha; a de manter a cadência firme e o passo certo; a de estar permanentemente coberto, alinhado e imóvel; a de ter-me permitido assumir compromissos e responsabilidades cada vez mais elevadas e tantas outras. Invoquei-O a cada desafio, pedindo Sua ajuda por intercessão de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Exército, de cujo altar Caxias, o Duque de Ferro, fazia-se acompanhar durante suas campanhas. Obrigado, meu Senhor e meu Deus! Meu Comandante, muito obrigado por suas palavras amigas e camaradas, mas, sobretudo, por me ter permitido viver intensamente minha derradeira missão no serviço ativo à frente do então Departamento de Ensino e Pesquisa, hoje Departamento de Educação e Cultura do Exército e, portanto, ter sido responsável pela preparação dos recursos humanos de carreira para nossa queridíssima Força Armada. Obrigado por tudo, pelo apoio, prestígio e prioridade irrestritos concedidos ao ensino, aos desportos e à pesquisa no Exército. Para fortalecer o poder de combate da Força, formamos, especializamos, aperfeiçoamos, pós-graduamos e proporcionamos altos estudos militares, capacitando homens e mulheres para todos os escalões hierárquicos, e, por intermédio dos órgãos de formação de oficiais da reserva e do Sistema Colégio Militar do Brasil, preparamos cidadãos líderes para a Nação Brasileira, multiplicadores vitalíciosdos valores transmitidos e praticados no Exército e que, sempre ao nosso lado, haverão de construir o Brasil dos nossos sonhos, mais forte, justo e honesto. O Exército acolheu-me, ainda imberbe, ao matricular-me no Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 1956, após ter logrado êxito em exigente concurso de admissão, sem que jamais me tivesse sido exigida a cor da pele dos meus pais, avós e demais ascendentes, ou me tivessem acenado para integrar qualquer tipo de quotas, fossem elas quais fossem. E, tendo-me recebido cadete na Academia, abriu-nos, a mim e à minha mulher, as portas para o convívio amigo da Família Militar, da qual temos recebido manifestações seguidas de apreço, de carinho, de amizade e de fraternidade, ao longo de toda a carreira, em distintos rincões do País e, até mesmo, no exterior. Esta Família é a nossa Família, a qual tanto estimamos. Na AMAN, passei a integrar a Turma IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, a Turma de 65, cujos eternos cadetes são, passados tantos anos, eternos amigos e camaradas, aos quais tanto prezo e estimo. Sãoirmãos que nem o tempo ou a distância física logrou separar. Reencontro-os e abraço-os, pelo Brasil afora, sempre com imensas e renovadas satisfação e alegria. Volto-me para minha mulher, Maria Helena, meu eterno amor e escalão superior, ainda que, esclareço, superior é verdade, mas não escalão enquadrante. A ela carinho e gratidão. Como ela sempre me disse, digo-lhe agora, “estamos aí!”. Este é, também, o momento de agradecer a toda a família, meus saudosos pais e irmão, e igualmente saudosos sogros. Meus avós, tios, cunhados, sobrinhos, sobrinhos-netos, primos e amigos. Na família sempre encontrei estímulo, compreensão e força. Gente, obrigado! Ao agradecer ao Comandante, reverencio em solene continência, todos os comandantes dos quais recebi constantes exemplos de homens de caráter, de brasileiros de brio e de líderes militares na mais pura acepção deste conceito. Impossibilitado de enumerá-los, sob pena de irreparável omissão, registro meu primeiro comandante na Academia Militar das Agulhas Negras, o, então, General-de-brigada Emílio Carrastazú Médici, exemplo de honestidade, de coragem moral e de audácia. Sob sua liderança, nós da Turma IV Centenário participamos da memorável campanha do Vale do Paraíba, durante as operações militares vitoriosas na Revolução Democrática de 31 de março de 1964, o que me valeu elogio assim consignado em minhas alterações, textualmente, por ter participado do movimento de descomunização do Brasil. Quando Presidente da República, sua popularidade era medida, não por frios indicadores numéricos, mas porprolongados aplausos, espontânea ovação com que era recebido a cada vez que comparecia à tribuna do Estádio do Maracanã. Sendo, pois, Comandante Supremo, sob seu comando nós, os democratas brasileiros, derrotamos o inimigo interno e subversivo durante a Guerra Fria e evitamos que o poder pudesse vir a ser transferido, no Brasil, de irmão para irmão, como recentemente aconteceu em paradisíaca ilha caribenha, vítima remanescente da falecida ditadura marxista. Aos meus comandantes e instrutores, professores e monitores, obrigado por tudo. Nunca serei suficientemente agradecido pelas lições que me transmitiram na caserna verde-oliva e que me fortaleceram o caráter que me havia sido forjado em casa, por meus saudosos pais, Léia e Coronel Silva Castro. No Exército encontrei a escola de valores, de atributos e de exemplos éticos que bem poderiam servir a tantos que freqüentam os noticiários quotidianos. São as demonstrações de honestidade; de probidade; de dedicação aos estudos; de patriotismo; de civismo; de lealdade; de senso do cumprimento do dever; de prática da verdade; de camaradagem; de ascensão profissional fundamentada única e exclusivamente no mérito; de respeito aos interesses da Nação brasileira, acima de quaisquer outros, inclusive os pessoais ou ideológicos; de aversão à corrupção e à demagogia; de cumprir e de fazer cumprir todas as leis, a exemplo daLei Áurea, da Lei do Serviço Militar e da Lei de Anistia, todas as leis, enfim; virtudes como a do pleno cumprimento da palavra empenhada; da solidariedade; e da dignidade. Em resumo, a lição de “Ordem e Progresso!” Expresso, de público, gratidão e agradecimento aos meus comandados de todos os tempos, aos quais procurei servir, sob a inspiração do juramento de “tratar com afeição os irmãos de armas e com bondade os subordinados”. No DEP e no DECEx, muito obrigado Generais Ronald e Arantes, meus vice-chefes. Muito obrigado aos meus assistentes, chefes de gabinete, de assessorias e de seções; muito obrigado aos oficiais, praças e servidores civis do Departamento. Em particular, agradeço ao meu Auxiliar do Estado-Maior Pessoal, que me acompanha desde as montanhas alterosas. Agradeço, ainda, no Estado-Maior Pessoal, aos sargentos auxiliares, aos motoristas e aos taifeiros. E uma mensagem de apreço às bandas de música que sempre me fizeram vibrar e marchar com cadência firme. Que Deus a todos proteja e abençoe, assim como a seus entes queridos. Abraço fraternalmente meus irmãos de armas do Alto Comando do Exército, com os quais muito aprendi sempre que, reunidos, discutimos assuntos do mais elevado interesse da Instituição. Sempre que a eles recorri, encontrei a mão amiga que me ajudou a vencer desafios e a transpor obstáculos. Aos que permanecem nesse elevado órgão de assessoria do Comandante, minha absoluta confiança, certo estou de que haverão de perseverar contribuindo para que o Exército permaneça invicto e vencedor, atendendo aos legítimos anseios da brasilidade e tão-somente aos dela. Expresso minhas gratidão e apreço à Fundação Marechal Trompowski, por seu apoio e ajuda constantes, cujo socorro tanto tem contribuído para minorar a grave escassez de recursos que tem impactado nossos planejamentos e adiado o acalentado sonho de dispor do Exército necessário à segurança e à defesa da Terra de Santa Cruz. Menção particular a todos os generais que me antecederam, não apenas no DEP, mas àqueles com os quais entrarei em forma a partir de agora. Reconhecimento e gratidão aos meus generais diretores e comandantes que, em conjunto com os comandantes, chefes e diretores de organizações militares subordinadas e vinculadas, deram vida ao processo ensino-aprendizagem , aos desportos, às pesquisas e às atividades de preservação e divulgação do riquíssimo patrimônio cultural da Força. Vocês foram perfeitos ao cumprir a diretriz, indispensável nos dias de hoje, de patrulhar e de defender! De defender nossos subordinados e sagradas casernas das investidas constantes do revisionismo histórico brasileiro e das mensagens tão freqüentes contrárias aos valores, às tradições, aos feitos, aos vultos e às lições do Exército de sempre. De patrulhar para que a lepra ideológica fosse mantida bem afastada de nossos currículos,salas de aula e locais de instrução. Os arautos da sarna marxista bem que tentaram, mas foram derrotados por todos nós, que seguimos a ordem do bravo Mallet, em Tuiuti: “eles que venham, por aqui não passarão!”. Meus generais, perseverai no combate, o inimigo é astuto e insidioso, mas capitulará ante nós, como derrotado tem sido até agora. Cuidado, ele procurará afirmar e convencer os inocentes e incautos de que o Exército 2009 é diferente do Exército que os derrotou no passado. Pobres almas, nós somos o Exército de Caxias, uno, coeso, indivisível, merecedor dos elevadíssimos índices de credibilidade que a tantos causam inveja e que em nós fortalecem a auto-estima e o orgulho de sermos soldados verde-olivas. Temos instituições mais do que parceiras, entidades amigas que conosco compartilham ideais. À Marinha e à Aeronáutica, às Forças Auxiliares, às universidades e fundações, aos institutos e academias, ao Clube Militar, demais clubes e personalidades, às associações e conselhos que conosco ombrearam e ombreiam, sou muitíssimo agradecido. General Rui, minha convicção de que, sob seu experiente comando, capacidade profissional e sólido espírito militar, permanecerá o Ensino no Exército cada vez mais sério, reconhecido, validado, organizado, testado, normatizado e absolutamente independente de qualquer órgão estranho à Força. Parabéns por sua recente promoção ao posto máximo da hierarquia e por sua seleção para estar à frente do ensino, das atividades culturais, dos esportes e das pesquisas científicas no Exército. Agradeço as bênçãos e as interseções de Santa Bárbara, padroeira da minha Artilharia. Prestes a executar os comandos de “alto, cessar fogo, mudança de posição!” e de “atracar a palamenta!”, confesso que sentirei intensa saudade das linhas de fogo e do sibilar das granadas na trajetória, quer de Costa, Antiaérea ou de Campanha. Já de algum tempo, preparando-me, tenho realizado sucessivos REOP, reconhecimentos, escolhas e ocupações de posição. Na posição de manobra, estarei referido na vigilância, registrados os elementos da barragem normal. Os artilheiros do Século XXI que me comandem “fogo! ’. A todos que me ajudaram a marchar, genuína e legitimamente fardado, sempre fardado, profunda gratidão por me terem permitido respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os irmãos de armas e com bondade os subordinados. Muitíssimo obrigado, meus Comandantes, pares, subordinados, amigos e Família Militar! Até a próxima região de procura de posição. Assumo, agora, a responsabilidade de bater nova zona de fogos. E, desencadeada a eficácia NA, no alvo, transmito a mensagem final: “Aqui General Castro, missão cumprida!” Muito grato.
REAÇÃO
12/05/2009 13:44As estapafúrdias declarações de um generalPor Zé Dirceu Não tenho agravado as declarações... As declarações do general Paulo César de Castro na cerimônia de sua passagem para a reserva superaram todos os parâmetros do razoável e deixam claro que chegamos ao limite. Inclusive pelo apoio indireto que ele recebeu do comandante do Exército, general Enzo Peri, que não teve coragem de reiterar ou condenar as declarações do colega. Enzo Peri veio com essa pérola, que deve ter aprendido com os políticos: "Ele (Castro) encerrou o tempo dele na ativa em 31 de março, quando completou 12 anos como general. Então, fez reminiscências do tempo como cadete. Há fatos históricos, cada um tem o direito de ter sua opinião”. Vamos às declarações do general Castro, que dirigiu por dois anos o Departamento de Educação e Cultura do Exército. Para ele, o golpe militar foi uma “revolução democrática” e o general Emílio Garrastazu Médici "um exemplo" ao qual elogiou por ter, como comandante da Academia Militar de Agulhas Negras, ”participado do movimento de descomunização do Brasil”. O pior foi o apoio do comandante do Exército Para o general Castro, os “arautos da sarna marxista" continuam atuando. Não satisfeito, o general continuou defendendo a missão do atual currículo das escolas militares com a seguinte declaração: "patrulhar para que a lepra ideológica fosse mantida bem afastada dos currículos, salas de aula e locais de instrução.". Ele concluiu seu pronunciamento com uma exortação: "Meus generais, perseverai no combate. O inimigo é astuto e insidioso. Mas capitulará ante nós, como derrotado tem sido até agora". O inimigo somos nós - a democracia, a Constituição, o parlamento, o judiciário, e a sociedade. Todos nós que desde 85 temos redemocratizado o Brasil. Quem tem dúvidas leia a derradeira declaração de guerra do general - "Cuidado: ele (inimigo) procurará afirmar e convencer os inocentes e incautos de que o Exército de 2009 é diferente do Exército que os derrotou no passado. Pobres almas". O general Castro reafirmou, assim, que o Exército, as Forças Armadas - suponho que inclui e assim julga também a Aeronáutica e a Marinha - são as mesmas que deram o golpe de 64. Pelo seu discurso, realmente, na educação e no currículo, base de toda visão política e ideológica dos oficiais militares, não devemos ter dúvida de que sim. 12/05/2009 13:43Desobediência e indisciplina nas Forças ArmadasPor Zé DirceuAs declarações desse general... As declarações desse general (nota acima) constituem desobediência e indisciplina perante às normas militares que proíbem seus integrantes de fazerem manifestações políticas, mas não é a primeira vez que militares afrontam a lei, a Constituição e a autoridade do presidente da República - o comandante e chefe das Forças Armadas - sem que nada aconteça. Há muito tempo está claro que as Forças Armadas não foram reformadas dentro do espírito e da lei constitucional de 1988. Ainda que vivam formalmente submetidas à Constituição e ao poder civil, profissional e disciplinadamente, na prática, vivem à margem e à parte da redemocratização do país.Nem mesmo o Ministério da Defesa merece esse nome, porque os militares é que controlam seus orçamentos, decidem o que e como fazer e são insubordinados à Constituição e à autoridade civil. E agora não temos dúvida, mantêm um controle férreo sobre a educação e o ensino e continuam a cultivar a ideologia que levou à ditadura e a justificá-la, inclusive não aceitando a verdade histórica sobre os mortos e desaparecidos. É como se estivessem esperando o momento para de novo intervir na vida constitucional do país, a pedidos ou por iniciativa própria. No fundo, revelam uma certa covardia, já que o general na ativa não teve a ousadia de pregar seu saudosismo pela ditadura. Manifestações como a desse general só comprovam a necessidade de se concluir a redemocratização do país, desencadeando um processo que leve à reforma dos currículos militares; a esclarecer, de uma vez por todas, a verdade sobre os mortos e desaparecidos; à aprovação de uma nova lei sobre os crimes da ditadura; e à submissão, de fato, dos militares ao poder civil, dando ao Ministério da Defesa os poderes, ainda em mãos dos comandantes militares, sobre orçamento e decisões estratégicas relativas às Forças Armadas. Sem isso, a semente da intervenção militar e da ditadura continuará a germinar e a crescer.
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