quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ora... até que enfim a imprensa fala em "ação criminosa"

21/04/2009 - O Globo

Sem-terra puseram jornalistas na linha de tiro
Associação Nacional de Jornais chama de criminosa ação do MST contra repórteres em confronto no Pará


SÃO PAULO. Jornalistas que presenciaram o confronto entre integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) e seguranças, que deixou oito feridos na Fazenda Espírito Santo, em Xinguara (PA), contaram ontem que foram usados como escudos humanos pelos sem-terra e colocados de propósito na linha de tiro. Dois repórteres da TV Liberal, afiliada da Rede Globo, e um do jornal "Opinião" denunciaram que, além de ter servido de escudo, foram mantidos como reféns.
O cinegrafista Felipe Almeida, da TV Liberal, que filmou cenas do tiroteio, contou os momentos de pavor que viveu:
- Eles (os sem-terra) mandaram que desligássemos as câmeras e avisaram que íamos ficar com eles. Mandaram que continuássemos andando na direção dos seguranças. Andamos uns 50 metros e ainda alertamos os sem-terra que ia haver tiro. Eles disseram: "Vocês que estão na frente que se virem". Quando o tiroteio começou, todo mundo correu, mas não consegui correr e fiquei lá filmando e rezando para não acontecer nada comigo.
O repórter Ednaldo Sousa, do "Opinião", escreveu sobre o que enfrentou: "Repórteres foram impedidos de gravar imagens dos sem-terra na caminhada até o retiro. Alguns sem-terra tomaram os equipamentos e, somente próximo do retiro São José, devolveram. Para piorar ainda mais a situação, os jornalistas foram feitos de escudo humano".

Victor Haor, repórter da TV Liberal, também fez um relato:
- Não nos deixaram sair pela frente da fazenda. Só conseguimos retornar na tarde de domingo. Mesmo assim, o gerente da fazenda queria que nós ficássemos lá porque, para ele, éramos uma garantia de segurança. Mas nós não aceitamos porque não havia mais condições de permanecer lá.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota ontem repudiando com veemência "a ação criminosa de integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) do Pará, que mantiveram quatro jornalistas como reféns e os usaram como escudos humanos no enfrentamento com seguranças da fazenda".
Na nota, assinada pelo vice-presidente Julio César Mesquita, a ANJ diz: "É injustificável e condenável sob todos os aspectos que se atente dessa forma contra a integridade física das pessoas, num revoltante descaso com a vida humana. Além disso, os integrantes do MST atentaram contra o livre exercício do jornalismo, aterrorizando profissionais que cobriam o evento com objetivo de informar à sociedade. Felizmente, ninguém saiu fisicamente ferido dessa ação criminosa".
A Secretaria de Segurança Pública do Pará afirmou que foi aberto inquérito para apurar as denúncias. Em nota, o MST disse que nenhum jornalista nem a advogada da agropecuária foram feitos reféns pelos acampados e que fecharam a PA-150 em protesto pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas, diz o MST, ficaram na sede fazenda por vontade própria.

Pedida intervenção federal Confederação da Agricultura critica governadora

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A Agropecuária Santa Bárbara, empresa dona da fazenda onde ocorreu o conflito, pediu a intervenção federal no Pará, governado por Ana Júlia Carepa (PT). A empresa pertence ao Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. No pedido - protocolado no Tribunal de Justiça do Pará 15 dias antes do tiroteio na Fazenda Espírito Santo -, a empresa critica a lentidão do estado no cumprimento de mandados de reintegração de posse.
A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), disse que até quinta-feira o mesmo pedido de intervenção federal será apresentado à Procuradoria Geral da República:
- Não há nada mais grave para o estado de direito que o descumprimento de ordem judicial. Não quero constranger a governadora, mas ela está levando o Pará a ser uma terra sem lei.
Segundo a CNA, o governo do Pará tem em mãos cerca de mil mandados de reintegração até hoje não cumpridos. Foi determinada a reintegração de 35 propriedades. Uma das decisões aguarda cumprimento há três anos.
A assessoria do secretário de Segurança Pública do Pará, Geraldo José de Araújo, admitiu que há mandados de reintegração de posse de quatro anos atrás por serem cumpridos. Alegou que o trabalho é dificultado pela grave questão agrária do estado e pelas dimensões do Pará.
Apesar de não haver registro de novos incidentes na Fazenda Espírito Santo, e de as estradas terem sido desobstruídas, a situação fundiária é tensa. Cláudio Puty, chefe da Casa Civil do Pará, disse que três grupos de sem-terra estão acampados na fazenda de Dantas. Além de integrantes do MST, há membros da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e posseiros.
- Há tensão na região. Estamos diante de situação de grande complexidade. São três grupos que não conversam entre si. E áreas enormes. O MST estava acampado a 32 quilômetros da sede da fazenda - disse Puty.

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