segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Lula, Satiagraha e a Real Politik

Lula, Satiagraha e a Real Politik

Atenção, um novo capítulo se abre para o caso Satiagraha.

O governo Lula acertou um acordo com a Editora Abril – e, por extensão, com
Daniel Dantas – para anular a Operação Satiagraha. O acordo foi montado da
seguinte maneira:

1. É impossível interferir nos trabalhos em andamento do Ministério Público
Federal e do juiz De Sanctis. A ofensiva de Gilmar Mendes foi um tiro no pé.

2. A estratégia acertada consistirá em tentar anular o inquérito de Protógenes,
no âmbito da Polícia Federal. A versão preparada é que o inquérito continha
irregularidades que precisariam ser sanadas. E a Polícia Federal colocou
seus homens de ouro para 'salvar' o inquérito. O trabalho dos 'homens de ouro,
na verdade, será o de garantir a anulação do inquérito.

3. Ao mesmo tempo, o governo aproveitará o factóide dos 52 funcionários da
ABIN que participaram da operação - uma ação de colaboração já prevista pelo Sistema
Brasileiro de Inteligência - para consumar a degola de Paulo Lacerda. A matéria
do Estadão de domingo, o da 'demissão em off' estava correta. Sabe-se,
internamente no governo, que a operação foi normal. Assim como se tem plena
convicção de que o tal 'grampo' entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres foi uma
armação. Mas Lula se curvou à real politik.

4. De sua parte, jornais e jornalistas mais envolvidos com o jogo estão
reforçando essa versão do 'inquérito ilegal' e do messianismo do delegado
Protógenes. A armação, agora, terá o reforço da concordância tácita do Palácio.

5. O pacto foi referendado pela Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. O
Ministro Tarso Genro foi o que se mostrou mais constrangido com a operação, mas
acabou se curvando à força dos fatos. Com essa operação, Lula e Dilma passam a
ser aceitos no grande salão nobre, pavimentando a candidatura da Ministra para
as próximas eleições.

6. O seu principal adversário, José Serra, já é outro aliado que entrou à
reboque da Editora Abril. Está pagando um preço caro, com a descaracterização
do seu discurso político.

7. A bola, agora, está com o Ministério Público e o Juiz De Sanctis, que terão
que trabalhar com essa nova peça do jogo: a intenção de se anular o inquérito.

Não sei por que, mas o evento da Abril me lembrou aquela cena épica de Francis
Ford Copolla, o fecho do filme. Enquanto todos estão na grande ópera, os
inimigos são fuzilados na calada da noite.

Na grande festa foram selados os destinos do delegado Protógenes e Paulo
Lacerda, dois funcionários públicos cumpridores da lei. Anotem os nomes deles e
os repassem para seus filhos e netos: foram dois brasileiros dignos,
sacrificados por um jogo sujo.

É o fim da grande batalha pela instituição da legalidade no país? Longe disso. É
apenas um novo capítulo. Tanto assim, que integrantes próximos ao jogo estão
completamente incomodados, assim como vários colegas jornalistas, que
entenderam que esse jogo de cena foi longe demais e está comprometendo a imagem
da categoria como um todo.

Com tanta testemunha, tanto conflito de consciência, julgam ser possível varrer
o elefante para debaixo do tapete? É muita falta de fé no estágio atual de
desenvolvimento do país.

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