terça-feira, 18 de novembro de 2008

"VÍTIMA DO TERRORISMO DE 1968 É UM ESTORVO PARA O PT"

Essa é a perversa lógica dos terroristas: às vítimas a dor, aos algozes o$ lucro$

Em 2008 remunera-se o terrorista de 1968
Elio Gaspari *
Daqui a oito dias completam-se 40 anos de um episódio pouco lembrado e injustamente inconcluso. À primeira hora de 20 de março de 1968, ojovem Orlando Lovecchio Filho, 22 anos, deixou seu carro numa garagem da Avenida Paulista e tomou o caminho de casa. Uma explosãoarrebentou-lhe a perna esquerda. Pegara a sobra de um atentado contrao consulado americano, praticado por terroristas da Vanguarda PopularRevolucionária. (Nem todos os militantes da VPR podem ser chamados deterroristas, mas quem punha bomba em lugar público, terrorista era).Lovecchio teve a perna amputada abaixo do joelho e a carreira depiloto comercial destruída. O atentado foi conduzido por DiógenesCarvalho Oliveira e pelos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefevre,além de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada.A bomba do consulado americano explodiu oito dias antes do assassinatode Edson Lima Souto no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, enove meses antes da imposição ao país do Ato Institucional nº 5. Essasreferências cronológicas desamparam a teoria segundo a qual o AI-5provocou o surgimento da esquerda armada. Até onde é possível fazerafirmações desse tipo, pode-se dizer que sem o AI-5 certamentecontinuaria a haver terrorismo e sem terrorismo certamente teriahavido o AI-5.O caso de Lovecchio tem outra dimensão. Passados 40 anos, ele recebeda viúva uma pensão especial de R$571,00 mensais. Nada a ver com oBolsa Ditadura. Para não estimular o gênero coitadinho, é bomregistrar que ele reorganizou sua vida, caminha com uma prótese, écorretor de imóveis e mora em Santos com a mãe e um filho.A vítima da bomba não teve direito ao Bolsa Ditadura, mas o bombistaDiógenes teve. No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lheuma aposentadoria de R$1.627,00 mensais, reconhecendo ainda uma dívidade R$400.000,00 de pagamentos atrasados.Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou doisquartéis, participou de quatro assaltos, três atentados à bomba e umaexecução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre asquais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía decasa. Tudo isso antes do AI-5.Diógenes foi preso em março de 1969 e um ano depois foi trocado pelocônsul japonês, seqüestrado em São Paulo. Durante o tempo em queesteve preso, ele foi torturado pelos militares que comandavam arepressão política. Por isso, foi uma vítima da ditadura, com direitoa ser indenizado pelo que sofreu. Daí a atribuir suas malfeitorias auma luta pela democracia iria enorme distância. O que ele queria eraoutra ditadura. Andou por Cuba, Chile, China e Coréia. Voltou aoBrasil com a anistia e tornou-se o "Diógenes do PT". Apanhado numcontubérnio do grão-petismo gaúcho com o jogo do bicho, deixou opartido em 2002.Lovecchio, que ficou sem a perna, recebe um terço do que é pago aocidadão que organizou a explosão que o mutilou. (Um projeto que revê ovalor de sua pensão, de iniciativa da ex-deputada petista MariângelaDuarte, está adormecido na Câmara.) Em 1968, antes do AI-5, morreramsete pessoas pela mão do terrorismo de esquerda. Há algo de errado naaritmética das indenizações e na álgebra que faz de Diógenes umavítima e de Lovecchio um estorvo. Afinal, os terroristas tambem sonham.*Elio Gaspari é jornalista

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